sexta-feira, 13 de maio de 2011

Coração reticente




_Ele era só um menino, o meu menininho! Eu o balançava todas as noites, e não foram poucas!
Ainda posso senti-lo sobre minha barriga, sugando meu seio, faminto lutando para viver. As lágrimas escorriam em meu rosto, tal como o alimento que descia do meu seio.
Era uma sensação de amor cheio, inteiro e eterno, esse era o meu sentimento e também meu anseio. Meu filho, meu passado e futuro.
Hoje estamos aqui, uma atrás da outra compartilhando as mesmas dores e desejos, também o sol quente em nossas cabeças, o pó da estrada, as dores nos pés e pernas, a pele ardendo no sol de trinta e dois graus,  e a  garganta seca de água e saudade.
Aqui fora a tristeza que nos foi imposta, no entanto, disfarço o que não tem disfarce já que é nitido e desvelado o sabor da solidão e descaso que trago inserido no meu ventre lacrado de medo e terror de um dia vivido e passado.
_O tempo acelera a dor e meu tormento. Se nega a parar...Se ao menos diminuísse!?
Negros, mulatos, brancos... Nenhum amarelo!
O verde aqui fora, não faz sombra para meu corpo já cansado, às vezes exausto e nem leva esperança, nem diminue o cinza lá dentro.
Marias, Joanas, Fátimas e Sabastianas. Mães, filhas, tias, esposas e madrinhas. Crianças. Esperança, por vezes perdida!
_Quando eu dormia, ele crescia. Um movimento ligeiro, quase inalcansável. Inconsolável, era assim que me sentia!
Estou aqui vivendo meu tormento, vivendo o que tenho de viver, a morte do meu filho vivo, mesmo sem querer, por amor ou necessidade de satisfazer aos que esperam de mim que eu simplismente faça, o que nem de longe disfarça o meu desprazer de estar aqui, mesmo que por quem amo. Ainda assim é só lamento, esse meu momento.
_Um inferno, um desespero!
Sandálias de plástico e camisetas vermelhas, tal qual minha dor, meu sangue transparente lava meu rosto queimado de sol. As minhas calças largas...Largo é assim que mantenho meu olhar no futuro, para que no momento do nosso resgate eu possa viver o meu sonho do passado.
_ Viver um dia feliz, com meu menininho!
Além disso só o agente penitenciário, as poucas nuvens no céu e DEUS. 


Marília Xavier

Um comentário:

  1. Você retrata a dor e angustia de todas as progenitoras que vivem o martirio do ir e vir em busca de levar o minimo da presença familiar aos seus rebendos momentaneamente ou tempo indeterminado afastados do convivio da familia, por opção, por ultimo recurso, um grito de liberdade, de auto-dominio...
    Mães! Todas iguais, mesmos sonhos, mesmos desejos, idealismos iguais quando se trata de seus filhos, seus tesouros. As mães traçam antecipadamente uma trajetoria à seus filhos e uma vez não acontecendo a dor e desilusão habitam os corações maternos, mas o constante amor, sem restrição faz esses seres passarem pela dor semanalmente vencendo todas as dificuldade para estarem junto aos seus.

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